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As cinco propriedades da oração

A oração é uma elevação da alma a Deus, para adorá-Lo, para Lhe dar graças e para Lhe pedir aquilo de que precisamos. É assim que São Pio X define a oração em seu catecismo, na questão 253. Este ato tão sublime não se resume a palavras jogadas ao vento. Uma boa oração possui cinco propriedades. Propriedade é aquilo sem o qual um ente não pode ser o que é; se retirada a propriedade de um ente, logo este está corrompido. Uma oração defeituosa nesses atributos será menos perfeita do que uma que os possua. O exemplo perfeito é o Pai-Nosso, pois foi ensinado pelo próprio Deus.

As cinco propriedades da oração

Confiança

“O amor tolera sombras; o conhecimento, não. Por isso não existe pior maneira de amar uma pessoa que tentar saber tudo dela. Um amor que não suporta o mistério está fadado à morte em agonia” Sidney Silveira

A confiança na oração é a entrega amorosa e livre, de modo que nos aproximemos com toda a segurança do trono da graça. A frase do professor Sidney nos lembra que a falta de certeza faz parte de nossa vida, e ele não apresenta isso como um problema, mas sim como parte fundamental do amor, e na relação amorosa presente na oração não é diferente, e assim deve ser na confiança, pois naquilo em que se confia, a visão não é clara, se fosse, seria uma evidência daquilo em que se dá crédito e não confiança. Mas esses bens que escolhemos livremente, apesar de estarem em uma espécie de sombra, tornam-se presentes em nossa mente por meio da oração. Então, façamos como nos exorta São Tiago 1,6: “Devemos pedir com fé e nada hesitantes”.

Conveniencia

“Pedis e não recebeis, por que pedis mal” São Tiago 4, 3

A conveniência é o instrumento adequado pelo qual o orante solicita a Deus apenas aquilo que possa ser proveitoso; caso contrário, a oração pode não ser ouvida se o pedido não for conveniente. Mas saber o que se deve pedir é difícil, pois é bastante complexo conhecer o que devemos desejar. Então, recorremos a auxílios:

“Da mesma forma, o Espírito nos ajuda em nossa fraqueza, pois não sabemos como orar, mas o próprio Espírito intercede por nós com gemidos inexprimíveis.” Romanos 8, 26

“Certo dia, Jesus estava orando em determinado lugar. Quando terminou, um dos seus discípulos lhe disse: ‘Senhor, ensina-nos a orar, como João ensinou aos discípulos dele’” Lucas 11, 1

Se orarmos correta e adequadamente, seja quais forem as palavras que usemos, nada mais pedimos além do que já está no Pai-Nosso. O Pai-Nosso contém todos os pedidos lícitos, sendo a oração perfeita que abrange virtualmente todas as outras.

Ordem

“Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça e todas estas coisas vos serão dadas em acréscimo.” Mateus 6, 33

Nosso desejo também deve ser ordenado, dada a sua funcionalidade em relação a um fim. Essa ordem será adequada se desejarmos e preferirmos os bens espirituais aos materiais, as coisas celestiais às terrenas. No Pai-Nosso, primeiro pedimos os bens celestiais e depois os terrenos, primeiro que seja feita a Vossa vontade e, depois, o pão nosso de cada dia.

Devoção

“Assim vos bendirei em toda a minha vida, com minhas mãos erguidas vosso nome adorarei.” Salmo 62, 5

O fervor da devoção torna o sacrifício da súplica aceito por Deus. Uma coisa é desejar esse bem simplesmente por ser um bem; outra coisa é pedir com o coração em chamas. E o coração só pega fogo na caridade; fora dela, temos frieza e indiferença. Mas cuidado, devoção se enfraquece com a prolixidade da oração, por isso Cristo nos ensinou a evitar esse excesso. “Nas vossas orações, não multipliqueis as palavras, como fazem os pagãos que julgam que serão ouvidos à força de palavras.” Mateus 6, 7. Então, nada de prolongamentos, até porque Deus já sabe do que precisamos em nossas vidas para nossa salvação.

“Estejam fora da oração as muitas palavras mas que não faltem intensa suplica se a intenção persistir fervorosa” Santo Agostinho

Só na caridade há verdadeiro fervor, e a caridade é o amor a Deus e ao próximo, ou seja, a Deus acima de tudo e ao próximo em Deus, pois amar o próximo pelo próprio próximo não é caridade, mas sim apego. Quando amamos o próximo em Deus, o amamos independentemente de seus defeitos, pois vemos nele um semelhante. O amor a Deus se manifesta na oração quando O chamamos de Pai, e o amor a todos quando dizemos no plural “Pai-Nosso”, e não “meu Pai”, e também “perdoai as nossas ofensas”, e não “minhas ofensas”, o que nos leva a amar mais os irmãos, pois sabemos que se nosso irmão faz o mal, nós também somos capazes de fazer igual ou pior.

Humildade

“Não é na multidão, Senhor, que está o vosso poder, nem vos comprazeis na força dos cavalos; os soberbos nunca vos agradaram, mas sempre vos foram aceitas as preces dos mansos e humildes.” Judite 9, 16

“Existe verdadeira humildade quando nada se presume das proprias forças, mas tudo espera alcançar pelo poder de Deus” Santo Tomas de Aquino

O soberbo é o oposto não só da humildade, mas também tende a não ser devoto e a não ser ordenado, pois o soberbo também peca na ordem, ao ordenar tudo a si.

Os tres frutos da oração

Remedio para males

“Então eu vos confessei o meu pecado, e não mais dissimulei a minha culpa. Disse: Sim, vou confessar ao Senhor a minha iniquidade. E vós perdoastes a pena do meu pecado.” Salmo 31 5

Não há melhor remédio do que um coração orante, pois nos liberta dos pecados cometidos, como orou o bom ladrão na cruz e alcançou o perdão quando Cristo lhe disse: “hoje estarás comigo no paraíso.” Lucas 23, 43. A oração nos liberta dos medos, dos pecados futuros, das tribulações e das tristezas. “Alguém entre vós está triste? Reze!” Tiago 5, 13.

Eficaz para alcançarmos o que desejamos

“Tudo o que pedirdes na oração, crede que o tendes recebido, e ser-vos-á dado.” Mateus 11, 24

Mas se não somos atendidos, é porque não pedimos com insistência e, portanto, devemos orar com perseverança e nunca desfalecer: “É necessário orar sempre, sem jamais deixar de fazê-lo.” Lucas 18, 1. Ou porque não pedimos o que convém mais à nossa salvação: “Bom é o Senhor que muitas vezes não dá o que queremos, para nos dar aquilo que deveríamos preferir.” Santo Agostinho

Util por nos fazer familiares de Deus

De modo que nos faz dizer com segurança “Que minha oração suba até vós como a fumaça do incenso” Salmo 140, 2.

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