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Você não gosta de música

“A gloria de Deus é o unico fim e objetivo da música” - Johann Sebastian Bach

Logo enquanto estava escrevendo um texto sobre música, o professor Guilherme Freire enviou uma carta aos assinantes do e-mail com o título “Música e a Harmonia da Alma”. Essa carta continha uma mensagem parecida com a que eu estava escrevendo, então vou me colocar no meu lugar de aluno e não me acanhar em citá-lo. No fundo, esse meu blog só faz isso mesmo, agregar falas de ensinamentos que obtive de pessoas que estão anos-luz à minha frente. No entanto, não pude deixar de deixar isso claro neste post pela coincidência dos fatos.

Mas vamos voltar ao assunto principal. Sim, isso mesmo, você não gosta de música, só pensa que gosta. E agora você deve estar se perguntando: “Então o que é isso que escuto e me divirto todos os dias?” Bom, é sobre isso que eu quero discorrer neste texto. Ao olhar para o estado das produções musicais contemporâneas, vejo muita paixão, uma paixão ardente por muitas coisas que não sejam a música e o que ela deveria suscitar.

Temos artistas e um mercado de trabalho que utilizam seus esforços para ganhar muito dinheiro, e é claro, mas não é isso com que devemos nos preocupar. O dinheiro é só uma consequência, afinal, só tem gente vendendo porque tem outros comprando. O fato é que há pessoas interessadas em produzir conteúdo que abusa dos vícios e doenças com uma ferramenta incrível, capaz de mover nossas paixões e tocar nossa alma, a música.

Música, costumes e vicios

Não é dificil enxergar as consequencias do consumo de musicas de baixa qualidade. Vamos olhar para o rock/metal, quais são os sentimentos, valores e a imagem que ficam claros em suas produções? melancolia, vazio existencial, drogas, luxuria, ira e etc. É dificil enxergar essas coisas nesse nicho? Já ouviu falar de algum caso de overdose nesses artistas? Gostar de quebrar coisas? Musicas extremamente melancolicas tanto no som quanto na identidade visual?

A respostas para essas perguntas é sim, não é a coisa mais dificil do mundo encontrar um clipe de metal no YouTube que antes de iniciar o video a plataforma mostra um aviso de conteudo suicida. Mais facil ainda é encontrar pessoas que absorvem em sua vida a melancolia como parte sua personalidade, roupas, maquiagem e decorações, tudo isso em cores negras, se esforçam para andar de cara fechada e a ofensa é comum e legal, assim como o uso de drogas. E o Funk, o puro suco da luxúria, roupas, acessórios, carros, mulheres, sexo e etc.

A música que ouvimos reflete a maneira como vemos e entendemos o mundo. Não é à toa que temos um gênero musical para cada hábito, mas o problema é que os hábitos que vemos hoje na música são negativos, e a forma negativa de um hábito tem nome, se chama vício. As pessoas estão escutando música não para apreciar a arte, mas sim para aprovar e gozar das consequências emocionais, corporais e espirituais que esses artistas têm para lhes oferecer.

E o porquê dessa necessidade de aprovação dos vícios? Bem, é natural que busquemos aprovação em nossa vida em relação à nossa própria consciência. Temos que acreditar que o que estamos fazendo é bom e normal, fica difícil viver sem isso. “Os homens amam a verdade quando esta os ilumina, mas a odeiam quando os reprova.” Essa frase de Santo Agostinho é o ponto de partida para a explicação do que estão fazendo com a música. Como é muito mais fácil deixar-se dominar pelo vício do que lutar para vencê-lo, temos que resolver a acusação da nossa consciência para com nossos atos, e a música se torna um instrumento para isso. Criamos um ciclo onde seus vícios alimentam seu gosto pela música e a música alimenta o vício.

Bom, Belo e Verdadeiro

Para explicar como a música pode nos mover para algo mais elevado ou mais mundano, vou deixar o professor Guilherme Freire falar:

“Aqui, será preciso entender que a música, sobretudo, tem a ver com a ordem. A percepção da beleza que temos com a música é uma percepção de três tipos de ordem, que a compõem:

Há ordem na simultaneidade, que é a harmonia. Há ordem na sequencialidade, que é a melodia. E há ordem na temporalidade, que é o ritmo. Essas três formas de ordem refletem as três características do Belo: proporcionalidade (análoga à harmonia), inteireza ou integralidade (correspondente à melodia) e clareza (correspondente ao ritmo).

Essas características, por sua vez, são um reflexo das características do Bem e da Verdade, vejamos:

A Verdade também tem integralidade, proporcionalidade e clareza. Integralidade pois suas partes, as “verdades particulares”, se articulam entre si, formando uma Verdade una, como peças em um quebra-cabeças. Proporcionalidade porque a Verdade vê as coisas como são, sem exagerar nem ignorar nenhum aspecto da realidade — a Verdade tem equilíbrio. Por fim, clareza porque a verdade se revela, ilumina, é clara e fonte de clareza.

Já com relação ao Bem, vou utilizar o exemplo de um bem moral, a justiça. A justiça é proporcional, pois dá-se a cada um proporcionalmente (e não arbitrariamente) o que lhe é devido. A justiça é inteira, pois não sobra nem falta. Por fim, a justiça é clara, pois não oculta nada, não tem segredos, e, se houver justiça, cada um sabe e conhece o seu direito.

Para sintetizar tudo isso: a música contém uma ordem que reflete a ordem do Bem e da Verdade, e será tanto mais bela quanto mais perfeitamente refletir essa ordem.

Quanto mais a música tiver do aspecto da clareza (ritmo), mais nos inclinará a aspectos do mundo material, pois, para nós, é mais claro aquilo que é mais material — afinal, podemos ver, ouvir, pegar. Quanto mais tiver dos outros dois elementos, mais inclinada às realidades espirituais, que são mais abstratas. Dessa forma, enquanto o ritmo é um aspecto fortemente material, que podemos contar com facilidade, a melodia e a harmonia são muito mais abstratas, e é muito mais difícil explicá-las.

Uma música em que um dos aspectos sobrepuja aos outros não reflete tão bem a ordem da Verdade. Logo, é menos bela — menos música, portanto.”

Por isso, o funk utiliza um ritmo extremamente repetitivo, até mesmo em sua letra, que geralmente é composta por duas ou três sequências de 1 minuto, formando uma música de aproximadamente 3 minutos. Isso nos inclina à materialidade, aos apetites e à afetividade. Esse recurso rítmico pode ser usado em músicas de academia, por exemplo, mas também é usado e abusado para nos guiar aos sentidos mais baixos.

Afastamento do Criador

“Um dos sinais mais tipicos da barbarização está no crescente desenvolvimento da repetição. As músicas, em que o ritmo é constantemente repetida, a repetição reiterada das mesmas situações, a repetição imitativa dos mesmos abstratismos, tudo isso encontra apoio e se desenvolve. Repetem-se os mesmos tipos de heróis, repete-se, pela imitação, a cópia dos mesmos originais. O imitativo substitui o criador.” - Mario Ferreira dos Santos

Acredito que isso seja apenas mais uma das diversas formas de abandonar Deus, uma desistência da vida espiritual. Abandonar o mais elevado para ficar com o mundano. A maioria das pessoas pode não ter essa noção, pois a doutrinação já tornou o Bom, o Belo e o Verdadeiro relativos, mas é difícil acreditar que, lá no fundo, elas não saibam que estão trocando algo que é melhor pelo egoísmo de suas vontades.

Isso tem umas consequências que chegam a ser engraçadas se não fossem desesperadoras. Por exemplo, existe um bife de luxo que custa R$ 1.000,00, que ficou bem conhecido pela divulgação da curiosidade nas redes sociais. Parte da propaganda é que as vacas escutam música clássica durante sua criação. É engraçado como as pessoas exigem que até mesmo seu alimento tenha os melhores cuidados, e dentre eles está a boa música, mas para si, qualquer coisa serve.

Enfim, se as vacas criadas para nós merecem os melhores cuidados, quanto mais nossa alma imortal, que foi criada por nosso Deus e para nosso Deus. O dia do julgamento vai chegar e nesse dia que Deus tenha misericórdia do que entregaremos a Ele.

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