Virgem Maria mãe de Deus
Neste pequeno texto sobre a Virgem, tentarei mostrar não apenas o papel fundamental que ela desempenhou como a mãe de Cristo, mas também a profundidade teológica que envolve sua participação na redenção da humanidade. Ao evidenciar as complexidades da união hipostática e da predestinação de tão boa Mãe ficara claro o como ela transcende a simples condição de mulher, emergindo como a figura escolhida para gerar a humanidade santíssima que se tornaria o instrumento da salvação divina.
União hipostática
Primeiramente, é muito importante entender o que é a união hipostática, que significa que Jesus Cristo é totalmente Deus ao mesmo tempo que é totalmente homem. Existem duas naturezas: humana e divina, unidas numa espécie de casamento, que é uma analogia perfeita, pois, assim como no casamento, os dois se tornam uma só carne, mas as duas realidades continuam distintas. A palavra “hipóstase” em grego é usada para designar “pessoa”, porém, o termo latino é mais claro “persona”, pois recorda que se trata de uma relação substancial. Assim, a união entre Deus e o homem não se dá de forma acidental(uma característica que não é essencial). A humanidade de Cristo tem como substrato a pessoa do Verbo Eterno.
Dizer que a Santíssima Virgem é mãe apenas da humanidade de Cristo vai nos levar a ficar muito próximos ou até mesmo assumir a posição de diversas outras heresias(além da heresia de negar essa maternidade). Nos primeiros séculos, a encarnação de Deus foi um choque e muitas pessoas caíram em erro ao tentar explicar o mistério dessa união. O docetismo, uma corrente de pensamento do século II, acreditava que o corpo de Jesus era apenas uma ilusão, como um espectro, sem carne e sangue, pois “que absurdo pensar que Deus se fez homem”, muito menos que nasceu de uma Virgem. Também havia o adocionismo, que afirmava que Jesus Cristo era um ser humano normal que foi adotado como Filho de Deus em um momento específico de sua vida, geralmente considerado como seu batismo. Jesus é cem por cento Deus e cem por cento homem, tentar dizer algo contrário a isso é certamente um erro.
Ele é feito dela
Maria não apenas carregou Jesus em seu ventre, isso seria como dizer que Jesus tinha uma matéria prévia à sua concepção, o que não é verdade. Ela é verdadeiramente a mãe de Cristo. Em outras palavras, a humanidade de Cristo tem sua origem nela, e é através dessa humanidade que Cristo nos salva. Como diz em Gálatas 4, 4: “Mas quando chegou a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, feito da mulher, feito sob a lei”. O corpo de nosso Senhor que foi flagelado e o sangue que foi derramado provieram dela, foram feitos por ela. Claro que não estou dizendo que Maria nos redimiu, mas não podemos ignorar a linhagem de Jesus, pois se fosse irrelevante não seria a primeira coisa dita no evangelho, em Mateus 1, 1-17. Dentro desta linhagem, Maria desempenha a função de sua mãe.
Um questionamento possível a essa afirmação seria: “Maria não pode ser mãe de Deus, pois Deus não tem mãe, certo?” No entanto, pode-se responder: “Deus tem sangue?” A resposta é não, em si mesmo, Ele não possui sangue. No entanto, o sangue Dele salva o mundo inteiro. Mas por que o sangue salva o mundo inteiro? Isso ocorre devido à união hipostática. Maria foi a geradora dessa natureza humana de Cristo, que é o instrumento da nossa salvação. Deus nos salva através da humanidade santíssima de Cristo.
Predestinada
Tudo o que foi falado coloca Nossa Senhora em uma relação muito próxima ao nível hipostático, pois somente ela é a doadora da humanidade santíssima que nos trouxe a salvação. Sendo assim, é impossível considerá-la apenas como uma mulher comum. Quero dizer que não é qualquer mulher que poderia desempenhar o papel que a Virgem desempenhou. No livro de Gênesis, quando Deus amaldiçoa a serpente, Ele diz: “Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela”. Portanto, se o pecado entrou no mundo, é porque Deus já tinha o plano de redenção definido antes que o pecado entrasse no mundo. E isso deve ser assim, pois a obra da redenção precisa ser superior à obra da criação.
Deus criou o homem sabendo que ele pecaria, pois o Redentor já havia sido providenciado antes do pecado. Em outras palavras, quando Deus revela a inimizade entre o demônio e a mulher, Ele mostra que Maria já estava predestinada no plano da criação. Quando Deus estabeleceu que Ele seria encarnado, Maria estava inclusa nesse plano desde a eternidade. Para diminuir Maria como uma pessoa qualquer, é preciso fazer uma leitura muito superficial de toda a redenção de Cristo. Santo Irineu de Lyon, discípulo de São Policarpo, que por sua vez foi discípulo de São João Evangelista, já falava de Maria como a nova Eva, pois da mesma maneira que o mal entrou no mundo por uma mulher, a salvação entra no mundo por uma mulher.
Sub tuum praesidium
Esta antiga oração em latim, que significa “Sob tua proteção”, é uma das mais antigas dedicadas à Virgem Maria. O papiro que contém o hino em grego remonta ao século III. Nesse hino, Maria é chamada de Theotokos, ou seja, mãe de Deus.
À vossa proteção recorremos, Santa Mãe de Deus;
não desprezeis as nossas súplicas em nossas necessidades;
mas livrai-nos sempre de todos os perigos,
ó Virgem gloriosa e bendita. Amém.
Conclusão
Ao considerar o papel de Maria na obra da redenção, percebemos que ela não é apenas uma personagem histórica, mas um elo essencial no tecido da teologia cristã. Sua conexão única com a encarnação de Cristo, deixada clara pelas escrituras e pelos ensinamentos dos primeiros padres, demonstra sua importância no plano da salvação. A compreensão de Maria como a nova Eva, conforme expressa por Santo Irineu de Lyon(seculo II), sublinha sua indispensável participação no plano divino.